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Importância do manejo nutricional na qualidade reprodutiva do rebanho


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Pedro Veiga Rodrigues Paulino*

A eficiência reprodutiva do rebanho de cria é um dos principais fatores determinantes da lucratividade de um sistema de produção de bovinos de corte, muito mais do que qualquer outro índice zootécnico. Afinal, quem paga a conta da cria é o bezerro desmamado, que vira garrote, depois boi magro e, finalmente, boi gordo que vai para o frigorífico, portanto ninguém come a picanha de um bezerro que não nasceu! Nesse sentido, vaca lucrativa é aquela que, antes de mais nada, produz um bezerro por ano. E o que define a eficiência reprodutiva das vacas? Os principais fatores que definirão essa característica de extrema importância são pressão de seleção genética, nutrição e saúde animal, manejo e uso de tecnologias reprodutivas, como a inseminação artificial em tempo fixo (IATF). Aliás, o uso da IATF vem crescendo consideravelmente ano a ano no País e já é uma tecnologia consolidada. Por meio dela, é possível obter bezerros de alta carga genética, uma vez que a IATF permite utilizar sêmen dos melhores touros do País e do mundo. Também conseguimos concentrar a prenhez das vacas no início da estação de monta, obtendo os famosos “bezerros do cedo”, caracterizados por serem mais pesados à desmama e apresentarem maior potencial de ganho de carcaça ao longo de sua vida. Muitos desses benefícios são advindos dos efeitos da programação fetal, visto que as vacas gestantes de bezerros do cedo passam grande parte do período gestacional em melhores condições de pastos, favorecendo a miogênese ou formação muscular dos bezerros.

Entretanto, se avaliarmos a cria brasileira como um todo, podemos afirmar que ainda somos pouco eficientes, visto que se estima que a taxa média de desmama no Brasil não passe de 60%. Isso significa que, considerando um total entre 65 e 70 milhões de vacas de corte em idade reprodutiva no País, temos uma legião de nada mais, nada menos de 26 a 28 milhões de vacas improdutivas em nossas pastagens, ou seja, uma Austrália inteira! Se considerarmos que o custo de manutenção de uma vaca por ano em uma fazenda tradicional de cria gire em torno de R$ 1.000,00 (pasto, mineral, mão de obra, protocolo sanitário etc.), estamos falando de uma cifra gigantesca de prejuízos à pecuária de corte nacional. E o que leva a essa baixa taxa de desmama? São vários os fatores que podemos citar mas, indubitavelmente, o manejo nutricional deficiente é o principal deles. Nossas vacas ainda recebem um manejo nutricional muito precário, mesmo com vários exemplos de pecuaristas que fazem uma cria profissional e lucrativa, obtendo índices zootécnicos excepcionais. Aliás, o principal índice zootécnico da cria é a quantidade de quilos de bezerros desmamados por vaca exposta à reprodução dentro de uma determinada área de pastagens conhecida, isto é, kg de bezerro desmamado/vaca exposta/ha. E o grande pulo do gato para obter melhores resultados na atividade de cria é melhorar a taxa de lotação, visto que, por mais eficiente que a vaca seja, ela vai deixar um bezerro por ano. Portanto, quando se quer aumentar a produtividade, é preciso colocar mais vacas por hectare. Assim, o criador que busca aumentar sua rentabilidade via aumento de lotação deve trabalhar aspectos importantes relacionados à fertilidade do solo, manejo de pastagens, orçamentação forrageira, planejamento alimentar e suplementação adequada do rebanho de acordo com cada categoria e época do ano, sem falar que, para fazer tudo isso, precisamos de pessoas bem treinadas, engajadas e conhecedoras do impacto que seu trabalho traz para o sistema de produção. O gerente, o vaqueiro, o capataz, o salgador, todos são imprescindíveis no processo.

Agora, uma coisa é certa: vaca malnutrida não emprenha ou não produz bezerro de qualidade. E a forma mais prática de avaliar se uma vaca está nutrida adequadamente é designando um escore de condição corporal (ECC), um índice subjetivo – é verdade –, mas que nos permite, na prática do dia a dia, determinar se o animal está em boas condições corporais para produzir o bezerro de que tanto necessitamos.

Assim, manter as matrizes em boas condições corporais é essencial para atingir bons índices de natalidade. O manejo nutricional do rebanho de cria é imprescindível para que se obtenham níveis reprodutivos condizentes com uma pecuária eficiente e lucrativa. Entretanto, por incrível que possa parecer, não é tão simples assim, mesmo porque a atividade de cria, dentro da pecuária de corte, é a menos privilegiada. Vacas têm de parir em boa condição corporal, uma vez que o ECC no parto tem uma forte correlação com o retorno à ciclicidade precoce após o parto. E o melhor momento para construir esse escore no rebanho de cria é na desmama, uma vez que tiramos o principal dreno energético da vaca, que é a produção de leite, e as exigências de gestação ainda estão relativamente baixas. Assim, temos de agir não só próximo à estação de monta, mas ao longo de todo o ciclo produtivo.

Para piorar a situação, durante anos foi dada muita ênfase e importância para um conceito, hoje já ultrapassado, de que os requerimentos de energia e proteína de vacas de corte gestantes só aumentam de forma mais intensa durante o terceiro trimestre da gestação, ou seja, na fase final, e que, até esse ponto, a vaca prenha pode ser deixada em qualquer pasto sem maiores cuidados. Isso se deve ao fato de que 75% do crescimento fetal é observado nesse período, quer dizer, o bezerro aumenta em peso de forma bastante considerável na fase final da gestação. Contudo, quão importante é a nutrição da vaca durante os outros meses da gestação – aqueles que antecedem esse crescimento mais intenso do feto? É necessário atender as exigências de energia e proteína durante toda a gestação ou isso é economicamente inviável? Essa é uma pergunta com a qual muitos pecuaristas se deparam no momento do planejamento nutricional do rebanho de matrizes.

A nutrição materna durante a gestação tem sido reportada como sendo um dos principais fatores que afetam o crescimento e o desenvolvimento muscular fetal, com efeitos que persistem por toda a vida do animal, mesmo quando não é verificada alteração no peso ao nascimento. A capacidade de crescimento e de ganho de peso de um bezerro é determinada pelo número de fibras musculares presentes no seu corpo, isto é, da quantidade de células musculares, que, após o nascimento, aumentarão de tamanho (hipertrofia). A formação dessas fibras, que dará origem aos músculos, ocorre durante a fase embrionária, ou seja, dentro do útero da vaca. Inicialmente, ocorre a formação das fibras musculares (miofibras) primárias durante o desenvolvimento embrionário. Essas miofibras são utilizadas como suporte para a posterior formação das miofibras secundárias, que ocorre durante a fase fetal e que contribui de forma majoritária para o aumento da massa muscular na fase pré-natal. A maior parte das fibras musculares é formada entre o segundo e o oitavo mês de gestação, e a redução da formação de fibras musculares durante esse estágio de desenvolvimento fetal pode causar efeitos fisiológicos negativos que persistem por toda a vida do animal.

A restrição de nutrientes no terço médio de gestação resulta, portanto, em redução do número total de fibras musculares. Logo o período crítico para a correta formação do músculo é justamente o período compreendido entre o segundo e o sétimo mês de prenhez da vaca. Dessa forma, a nutrição materna deve ser bem delineada não somente no terço final, mas principalmente no médio.

Na região Centro-Oeste do Brasil, onde está concentrado o rebanho de corte nacional, a estação de monta, geralmente, ocorre de meados de dezembro a fevereiro, podendo variar de ano a ano em função das circunstâncias climáticas. Assim, as vacas que emprenham do meio da estação de monta para frente – por volta do mês de janeiro/fevereiro – vão atravessar o terço médio de gestação em uma condição nutricional não das melhores pois os meses de abril a agosto representam o auge do período seco, em que há deficiência quantitativa e qualitativa de pasto. Assim, torna-se necessário fornecer suplementação aos animais, de forma a garantir a formação muscular do bezerro sem comprometimento.

E a nutrição do rebanho de cria precisa evoluir, assim como aconteceu com o confinamento e vem se intensificando na recria. Quando se fala em mineralização de vacas de cria, por exemplo, ainda se dá muita ênfase somente ao nível de fósforo das misturas minerais, esquecendo-se dos demais macro e microminerais. O Brasil é um país tropical, com solos intemperizados ao longo do tempo e, portanto, muito pobres em praticamente todos os minerais. Consequentemente, as forrageiras, por si só, não atendem as demandas nutricionais das vacas, de forma que a dieta desses animais precisa ser complementada com suplementos minerais de qualidade. Definir o protocolo nutricional do rebanho de cria por categoria e época do ano é fundamental. Que produto utilizar, com quais características, em que época, para qual categoria, e qual o consumo esperado são questionamentos importantes a serem feitos e devem estar muito bem entendidos por todos envolvidos na rotina das fazendas.

Suplemento mineral linha branca, suplemento mineral aditivado, sal ureado, sal ureado aditivado, proteinado de baixo consumo, proteico-energético de médio/alto consumo, dieta de sequestro – esses termos parecem familiares, certo? E devem ser mesmo porque representam as principais categorias de suplementos nutricionais utilizados no rebanho de cria. Muitos acham que são todos muito parecidos e que a definição de qual utilizar passa pela avaliação simplista do preço. Custo mínimo é muito diferente de lucro máximo e, na minha percepção, caro é somente aquilo que não funciona. E existem tecnologias inovadoras em nutrição de vacas de cria que vão muito além do simples “sal 80 ou 90”. A linha Probeef Reprodução da Cargill/ Nutron leva essa tecnologia ao produtor fazendo com que o rebanho obtenha índices reprodutivos dignos de uma pecuária profissional. Minerais de alta biodisponibilidade, em quantidades equilibradas, aditivos específicos que otimizam a função reprodutiva da matriz reduzem os efeitos do estresse do manejo para quem usa a IATF e leva os animais algumas vezes ao curral, correção de deficiências marginais de nitrogênio no rúmen e de proteína metabolizável em momentos críticos da época seca do ano, são apenas alguns exemplos dos nossos diferenciais. Mas diferencial mesmo é a capacidade técnica do nosso time de colaboradores, franqueados e representantes, que conhecem a fundo nossas tecnologias e – o mais importante – como adequá-las dentro de cada sistema de produção especificamente.

*Pedro Veiga é consultor técnico nacional de Bovinos de Corte da Cargill Nutrição Animal.

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